
DeFi entrou no modo turbo!
28 May 2025
A tokenização de ações está crescendo em proporção rapidamente, e isso tem potencial para acelerar o ecossistema descentralizado....
Se você entrou no mercado no último ciclo, pegou o “Verão de DeFi”. Era inverno aqui pra gente, mas não importa.
Um monte de aplicação descentralizada aparecendo, os degens investindo na “poupança on-chain”, os pools de liquidez torando. Não demorou até que os primeiros lunáticos começassem a falar: “e quando as instituições financeiras descobrirem o DeFi? Será lindo!”
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Ok, não foram com essas palavras, mas essas ideias começaram a surgir. E elas foram pra frente! Já em novembro de 2022, o JPMorgan tokenizou depósitos com moedas fiduciárias entre bancos de Singapura e Japão, como parte do Project Guardian.
E aí, aos poucos, começou a febre dos ativos do mundo real tokenizados (RWA, na sigla em inglês). Além das stablecoins, um segmento famoso do ramo de RWA são os money funds. Esses fundos investem em títulos da renda fixa, geralmente do tesouro dos Estados Unidos, e oferecem retornos relativamente legais.
O fato desses fundos serem emitidos em blockchain, especialmente por grandes gestoras como BlackRock e Franklin Templeton, é algo gigantesco.
Especialmente se considerarmos a “composabilidade” que esses títulos tokenizados receberam. O BUIDL é o melhor exemplo: é usado para lastrear uma stablecoin emitida pela Ethena Labs, foi considerado como colateral em money markets de DeFi, e a Euler listou para negociação os recibos tokenizados do fundo.
Mas e se eu dissesse que um novo mercado, maior e mais movimentado, está se abrindo?
Sobe na motoca, maluco. Javibroa e eu vamos te levar pra dar uma volta por uns papos sobre regulamentação e o estado atual da tokenização de ações.
Um mercadinho
No dia 19 de maio, o mercado de money funds tokenizados furou pela primeira vez a marca de US$ 7 bilhões. No dia 24 de maio, esse mercado registrou a máxima histórica em US$ 7,092 bilhões.
Em apenas um ano, o mercado de money funds representados na blockchain cresceu 351%. Pois é, ele ficou 4,5 vezes maior.
Mercado de money funds tokenizados. Imagem: rwa.xyz
Mas vocês querem a parte “triste”? Mesmo estando maior do que nunca, as versões tokenizadas representam apenas 0,1% de todo o mercado de money funds.
Sim! Na semana que terminou em 21 de maio, o tamanho do mercado de money funds era de US$ 6,97 trilhões, nos dados do Investment Company Institute .
“Pelica, mas você quer o que com esses números?” Quero criar um contexto. Um contexto sobre um mercado muito maior: o lindo mundo das ações.
Um mercadão
O mercado de ações tem US$ 124 trilhões em tamanho , e a Statista estima que ele vai ultrapassar US$ 128 trilhões ainda em 2025.
Nos dados do rwa.xyz , o tamanho do mercado de ações tokenizadas é de US$ 393 milhões . É infinitamente menor do que o mercado tradicional, e existem alguns motivos pra isso.
Embora tokenizar money funds seja um terreno cinza nos Estados Unidos, ele é considerado mais seguro porque envelopa em um token algo que não é considerado um valor mobiliário.
Já as ações são outros quinhentos, porque elas são valores mobiliários e a negociação depende de aprovação da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês).
Além disso, tem o fato de tokenização focar geralmente em mercado mais engessados, com um desenvolvimento digital limitado. Um relatório da ANBIMA de 2022 explica o mercado de ações, em sua essência, já é bem digitalizado.
Ou seja: não há uma pressa tão grande para tokenizar ações quando comparado ao mercado de money funds.
Mas voltando à questão regulatória, que é muito mais impactante. Por anos, o tema de ativos digitais ficou congelado nos Estados Unidos. Se você não estava vivendo em uma pedra nos últimos oito meses, vai perceber que não é mais esse o caso.
O novo chefe de estado do Tio Sam, Donald Trump, é um político amigável às criptomoedas (e aos trambiques). Como consequência, as novas lideranças dos reguladores também são.
Por isso, o tema está andando por lá, tanto na Comissão de Negociação de Contratos Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês) quanto na SEC.
O papo é importante por lá, já que o mercado nos EUA representa quase metade de todo o mercado de ações. Se o tema de ações tokenizadas avançar na Burgerland, veremos aquele valor de mercado crescer consideravelmente.
Mas tá andando como?
A força-tarefa de cripto da SEC vive se reunindo com empresas do setor, e não foi diferente na semana passada.
Eles tiveram três reuniões que chamaram atenção de quem tá acompanhando o cenário regulatório de tokenização dos EUA: uma com a Nasdaq, uma com a Plume e outra com a Etherealize.
Nessas reuniões, o tópico foi justamente tokenização de valores mobiliários .
A Nasdaq pediu uma avenida fácil pra listar tokens representando contratos de investimento (que caracteriza um valor mobiliário), a Plume pediu diretrizes pra tokenizar ações de dentro e fora dos EUA e a Etherealize pediu que os registros de ações tokenizadas sejam feitos em blockchain.
“Mas se é token, já tá na blockchain!” Sim, mas eles querem que os registros fora da blockchain sejam migrados para dentro do mundo descentralizado.
Além de todas as propostas que eu mencionei acima, algo que apareceu nas três reuniões foi o tal sandbox regulatório. Um sandbox regulatório, de forma simplificada, é um ambiente onde reguladores e empresas testam novos produtos e tecnologias de forma controlada.
Por exemplo, em vez de emitir uma ação tokenizada liberada para todo mundo nos Estados Unidos, a oferta fica extremamente limitada para algumas pessoas. Na maioria das vezes, essas “algumas pessoas” são investidores qualificados, nome geralmente dado pra galera que tem muita grana.
O Brasil já tem um sandbox para essa mesma finalidade há três anos, mas esse é um assunto para outro dia.
O foco aqui é o Tio Sam, onde esse papo já tem ganhado força.
O Mark Uyeda, comissário da SEC amigável às criptos e que foi diretor interino até o Paul Atkins assumir recentemente, falou sobre o tema em abril. As falas foram durante um encontro promovido pelo regulador (as “roundtables”), dedicado a falar sobre exchanges.
A Caroline Pham, que é diretora interina da CFTC por mais alguns dias, já defende a ideia desde agosto de 2024.
Em fevereiro, ela começou a agir ativamente pra abrir um sandbox regulatório focado em stablecoins , e tem feito muito esforço junto com a força-tarefa de cripto da SEC pra reviver um comitê conjunto dos dois reguladores que foi desativado em 2014.
Mas não é tudo. Além dos reguladores, os próprios players do mercado começaram a se mover mais ativamente.
No final de abril, o Solana Policy Institute submeteu uma proposta de sandbox regulatório para emitir e negociar ações em blockchains públicas.
A proposta chama “Project Open”, e teve como co-autores a Orca, exchange descentralizada da Solana, e a empresa de investimentos Superstate.
Aliás, a Superstate não perdeu tempo e anunciou uma plataforma no começo de maio para tokenizar ações registradas na SEC usando a Solana .
Não parou por aí. No dia 20 de maio, a Robinhood submeteu uma proposta com 42 páginas à SEC, com o objetivo de regulamentar o mercado de RWA. Dentro da proposta, a empresa falou sobre emitir e negociar ações usando blockchain, mais precisamente Solana e Base.
Tá, agora eu quero que você respire fundo. Tire 30 segundos pra absorver o que você leu. Estamos falando dos principais reguladores do mercado de capitais dos EUA pedindo, com certo tom de urgência, que o tema de tokenização de ações comece a andar.
Nasdaq e do Robinhood estão falando a mesma coisa. Dessa vez, não são só os players de cripto, mas parte do aparato tradicional.
Respirou? Tem mais. A Kraken anunciou em 22 de maio a xStocks , uma plataforma para permitir a negociação ininterrupta de ações tokenizadas na Solana.
O “modo turbo”
Sendo sincero, acho que isso é apenas o começo. Vou citar alguns exemplos.
A BlackRock já tá de olho no mercado de derivativos tradicional com o BUIDL desde o ano passado, quando sugeriram permitir o uso das cotas tokenizadas do fundo como colateral .
Não vejo a maior gestora do mundo ficando pra trás nessa corrida das ações tokenizadas, e acredito que eles não só vão entrar nesse segmento, como farão uma sugestão semelhante. Semelhante porque, se não me engano, não dá pra usar ação de colateral.
A Ripple comprou a Hidden Road esse ano, que é uma instituição financeira atuante nos ramos de liquidez e crédito. Ou seja: eles adquiriram uma bazuca não só para stablecoins, mas também para agilizar o processo de negociação de ações.
Deixando um pouco mais claro, esse ramo de “liquidez” consiste em prover liquidez para ações, transformar o número no computador em dinheiro de verdade. Com algo assim em mãos, a Ripple pode se tornar um concorrente relevante nesse setor.
Tudo bem que eles estão em baixa em Washington, com o Brad Garlinghouse reclamando que a Cynthia Lummis não dá atenção pra eles, e o Trump parece que se esqueceu da empresa. De qualquer forma, essa situação pode mudar em um estalar de dedos.
O cenário que se desenha é que teremos avanços significativos até o fim de 2025 em ações tokenizadas. E aí voltamos no começo do texto!
Lembram quando eu falei de toda a composabilidade que os money funds tiveram em DeFi?
É besteira achar que isso não aconteceria de forma semelhante, ou possivelmente até em maior escala, com ações tokenizadas. Esse é o tal “modo turbo” de DeFi: finanças tradicionais e digitais se aproximando ainda mais.
Espero que você esteja bullish a ponto de correr sem roupas pela casa agora. Mas antes, desça da motoca.
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